tu acabou de sair daqui. dou pulinhos atrás da porta, feliz, sabendo que à noite vamos numa roda de chorinho beber caipirinha de limão siciliano, que tu adora, sem açúcar, porque eu preciso. no espelho já não sou mais o mesmo: nenhum pelo da barba está inflamado. sorrio porque, ao acordar, tu disse que sonhou comigo. tu acabou de pegar o metrô e me mandou mensagem avisando que está tudo bem. de nenhuma das minhas feridas escorre pus. e avisou que sente saudade. me debruço na janela e sinto o vento, uns poucos pingos de chuva. hoje a noite vai ser fria, e vamos dormir juntos. quando acordarmos, faremos o de sempre: eu na conchinha de fora e tu na de dentro; viramos; tu na conchinha de fora e eu na de dentro; beijos; tu fala dos teus sonhos, e eu em silêncio porque nunca lembro dos meus; levantamos da cama; fazemos xixi; tomamos trezentos e cinquenta ml de água em jejum; vamos pra sacada ver o sol nascer e fumar um cigarro de kumbayá cada um. tu acabou de dizer que chegou em casa e manda um emoji de coração. eu me jogo no sofá e amo cada parte de mim em que tu encostou durante a noite.