[...]oite curta, de cinco horas. a angústia me impede de permanecer no escuro, trancado na paisagem do meu quarto pequeno, que é uma caverna. significa submergir nos acordes mentais da música da gal. significa vê-lo se aproximando em silêncio, e eu pronto para ouvi-lo, para deixá-lo entrar. sem conseguir respirar, me levanto. acendo todas as luzes do apartamento. ligo a tevê em qualquer canal em que haja alguém falando: um noticiário, uma missa, uma receita de bolo. é para dispersar aa voz dele me contando sobre o que gosta de fazer durante o carnaval. há pássaros em são paulo, bem-te-vis, canários, sabiás, tucanos e corujas. e pelicanos. atobás, albatrozes. pássaros caçadores na cidade onde faz vinte e um por cento de umidade em agosto. em mais uma noite curta eu precisei molhar uma toalha e deixá-la pendurada ao lado da cama, na minha caverna. talvez seja por isso que os pássaros vêm cantar na minha janela. repasso as últimas vezes em que nos encontramos e quase acredito que eu deveria tê-lo beijado desde a primeira vez. é só em mim que essa fenda separa; é só em mim que a noite curta pesa; é só em mim que a lembrança da última vez em que eu toquei na sua barba estraç[...]