Cabem seis janelas dentro da minha própria, se olhadas de dentro. De fora, a minha é só mais um buraco na parede do prédio alto. Só a minha está aberta. Fantasio muitas vezes com as pessoas paradas por detrás dos vidros das janelas de fora olhando para cá. Atrás das cortinas. Fantasio homens de pé atrás dos vidros, atrás das cortinas, vigiando o que acontece nas janelas de cá. Em algum momento seus olhares descolam da minha janela e deslizam para outra. Desconectam da minha janela. Desconhecem as paisagens da minha janela. Desinteressam-se pelas cores. Desimportam-se e escapam como gotas, bem lentamente, para outros cenários. Despontam em outras linhas do retrato. Fantasio que eu fico só, bem aqui, com a janela aberta. Nada passa por ela, entretanto: nem olhares, nem vento, nem chuva. Uma janela hermética apesar de aberta.