tem já falas deitadas na memória, falas que a memória deseja expressar, falas em outras línguas e tolices geográficas deslocadas, alteradas em sua latitude: a memória deseja um futuro? a memória apenas se atém ao passado? bem no centro, três dedos acima do umbigo, e bem fundo, talvez uns cinco dedos pra dentro da pele: é ali que me embrulha, é dali que vem a náusea. sinto ali o embrulho se contorcendo; é bem no centro, bem no meio; me embrulha, me envelopa; me circunda, e eu fico grudado no avesso do embrulho e é neste momento em que vomito. minha memória deseja um futuro, minha velhice se locupleta da juventude alheia, bonita, bem cheirosa, mas também profundamente triste e desnorteada. tem já embrulhos no estômago: que presentes querem sair? eu sou o presente do embrulho do meu estômago. quem se quis e esteve aqui, quem se deitou e dormiu, quem me abraçou e não voltou: minha memória deseja um futuro para mim.