O chão debaixo dos meus pés


Senti prazer em pisar na calçada cheia de sulcos, nas pedras desorganizadas, nas lajotas em desnível. Até mesmo quando minha cara bateu forte contra o chão, até mesmo aí eu gostei. Tropecei, caí. Mas era o chão, dali eu não passei. Machuquei um pouco o rosto, esfolei de leve minha testa. Levantei e procurei com desespero alguém familiar, alguém pra me dizer que ‘tudo vai dar certo’. E achei, me senti seguro por saber que eu tinha com quem contar. Continuei andando pelo chão cheio de buracos, e uns olhos que de mim se desviaram, umas palavras que saíram pela minha tangente, uns corpos que se insinuaram para longe, tudo me fez sentir triste. E como somos tristes! Fingimentos bem posados podem ser elegantes, mas não são inofensivos. O chão debaixo dos meus pés não era o limite. Há horas em que nem o chão segura, em que não é dele que decolamos, e nessas horas tudo é um colete salva-vidas em potencial para a gente não se afogar no fluxo do medo: uma senhora que me pede dinheiro para poder voltar pra casa, uma outra que lê “Os amores de Sabrina” do meu lado. Um rapaz que se exibe no banheiro público. Um taxista gaúcho morando em Florianópolis. O ônibus que viaja numa velocidade muito alta, o chão da estrada, um noite de pesadelo que não terminou nunca. A minha casa, ahh, eu queria estar de volta na minha casa. Queria trancar a porta e fingir que nada daquilo aconteceu: um fingimento bem posado e bem cruel.

Rostos


B assumiu-se como um corpo dócil, mas não se preocupou em deliciar-se com a dor toda de ser o segundo – depois do A. B assumiu-se naquele momento como corpo dócil, como corpo disciplinarizado e como corpo controlado. Ele não sente dor, ou dúvida, ou debilidade; ele sente apenas confortabilidade, que é de terceira ordem. Imediatamente assumiu-se como um ‘escolhido’, isso porque sua vida quase lhe foi roubada num desentendimento de cores entre o verde e o vermelho. Bacia quebrada, hemorragia arterial, coma, experiência de quase-morte, retorno, re-habilitação, re-inserção, re-humanização. Ouro? Nem tanto. Algumas vezes prata, em outras nem isso. Todo o esforço que fizera em ser aceito e ser admirado era acometido por momentos em que se emperrava na insegurança de um colega ou no excessivo egocentrismo de outro. De toda forma, ali estava com um quarto de século de corpo esguio, com quase dois metros de altura, vários pêlos pelas pernas, alguns na altura do umbigo e peito. Barba cerrada. Um quarto de século de dois por cento de gordura. Um quarto de século de corpo de sucesso? Nem tanto. Articulações comprometidas, comprimento que não cabia em nenhuma cama, calças que não cobriam suas pernas, tênis que lhe apertavam os dedos... a dor e a delícia de pertencer a este mundo depois de ter perdido qualquer referência daqueles que o puseram nele. Morreram numa explosão triste, fogo consumindo o metal, metal se confundindo com a carne, carne irreconhecível entre mais de cem corpos carbonizados num churrasco macabro. Mais uma vez o corpo! O corpo que lhe fugira quando rolou pelo asfalto; que lhe faltou quando vagou pelos corredores da UTI; que era seu instrumento de trabalho para saltar, chutar, parar, gritar; que lhe guardava prazeres inomináveis, porém belíssimos, com um outro colega B que insistia em afundar um círculo de ouro vazado no corpo – não o outro círculo de ouro recheado que ambos perseguiam. E mais uma vez o corpo. O corpo que tinha, que quase morreu, que quase se matou, que quase foi belo, que quase foi ouro, esse corpo que perdeu de onde veio, que não tinha mais pra onde voltar, esse corpo se cansou. A prata foi metal nobre que dialogou com ele – eu trago o mais (des)graçado dos brilhos, com menos graça, porque sou feita do brilho dos teus olhos quando ele te deixa sozinho para adular o círculo de ouro vazado que leva incrustado em seu corpo – e ali se deu por conta que precisava sair do coma mais uma vez. O coma no qual deitara era um imenso rosto, um imenso buraco negro que o capturara. Precisava reinserir-se em outro rosto, sulco de aprisionamento mais raso, em que minimamente pudesse chorar a perda dos seus, chorar a perda do ouro e desejar de forma frenética aquele corpo que carregava um ouro circular. Que rosto, meu deus, poderia conferir-lhe tanta liberdade? Sabia que não havia, sabia que não tinha chance, sabia que o máximo de proveito ele já tinha tirado. A pele lisa, com pêlos nas pernas e logo abaixo do umbigo, a barba, a boca que lhe sugava, as mãos que lhe pressionavam, os olhos que lhe capturavam com rosto! Denunciou para si mesmo a dor de ser e de estar ali naquele momento, trabalhando com seu corpo com afinco e dedicação sem receber o que merecia: nem o metal dourado de forma circular recheado, nem o metal dourado de forma circular vazado. Nem um, nem outro, se pendurou sobre seu corpo. E ele tentou por oito longos anos. Não seria o caso de tentar o coma novamente? Ou de tentar o luto? Nem tanto. Porque nesses dois está guardado o metal negro em forma de cruz. Escolheu ficar vivo, mas com o rosto da derrota: deixou-se capturar pelo buraco negro da prata, encheu a cara de vodka com coca-cola zero, e deu-se por muito feliz. Com um quarto de século de vida, tendo escapado do coma, tendo escapado do luto, tendo escapado do amor, nestas condições o metal dourado de forma circular recheada pesando sobre seu corpo seria um rosto. E o que ele menos queria naquela hora era um rosto para mostrar e um rosto para assumir.

E a melhor ever:

"É ou não é ou não é? É!"

A seguir, as 5 melhores dos últimos anos

"Nasci em 83, mas em 86 eu já usava scarpin branco e ombreiras pra imitar a Madonna"

"Seu eu fosse mais jovem, eu pegaria meu pai"

"Não sou sarado porque eu não quero virar estatística"

"Eu era hetero, mas a Cher me salvou"

"Por que eu aceitaria meio pau se não tenho meio cu?"

"- Se o beijo for bom, tu me dá um desconto?
- (...) Se o beijo for bom tu me dá uma gorjeta?
- (..........................................................................)"

Escolho me deitar

Tens razão, às vezes fica bem difícil.
Hoje eu me dei conta disto enquanto assistia à aula. O rapaz sentado ao meu lado não era o mais bonito, mas eu quis extrair beleza dele. E fiquei quase três horas insinuando meu olhar pelas suas pernas, pelos seus cabelos, tentando fazer brotar dali um sinal – um índice, um aceno – de que não havia nada ali que eu não pudesse encontrar em um outro lugar, até em mim mesmo. Nessa minha pose contemplativa fiquei uma boa parte do tempo, e quando nossos olhares cruzaram, por quatro vezes se cruzaram, eu contei riscando palitinhos na folha em branco até formar um quadrado, eu invariavelmente pulava de sua cabeça à outra, de suas pernas ao chão, de suas mãos à cadeira, de seus cabelos ao ventilador, mas percebia que ele me encarava. Até que num momento ele pôs a mão por dentro do moleton azul-marinho para coçar o peito, e o moleton subiu, e eu me estiquei o máximo que pude para colher o máximo de que eu tinha direito de um mínimo possível de sua barriga. Me deitei naquela barriga, rocei minha barba nos seus pêlos que descem do umbigo, lambi seu umbigo, e imediatamente voltei a mim como se nada – ou tudo – tivesse acontecido. E esse foi o momento glorioso da manhã, quiçá do dia. Eu diria da semana: escolhi me deitar na barriga de um aluno!
E ontem foi um dia desses, bem como tu estás me narrando. Difícil, magoado. Ruidoso e pegajoso, em parte por causa do tempo, em parte por causa do meu tempo. Perceber que escolhas antigas talvez não tenham sido as mais corretas... Ou, pior ainda, perceber que as escolhas antigas foram as mais corretas porque, exatamente, o outro é que tinha razão: eu ainda não estou preparado para aquilo. Voltei pra casa com uma vontade de tirar a roupa, o blusão, a camisa, a calça, os tênis, as meias, as cuecas e seguir tirando tudo: a pele, o fígado, o estômago, os músculos das pernas, como naquele videoclipe do Robbie Williams. Mas, na minha pressa em despir meu corpo e em despir-me do meu corpo, imaginei que quando só me restassem ossos, ou apenas um osso para arrancar fora de mim, ainda assim haveria uma coisa qualquer que deveria estar desde já arrancada e que ainda não está. Tem um mofo, um bolor que não consigo limpar. É um lugar que não pega sol – e não é esse que tu estás pensando, porque esse vê a luz mais que outros. É um lugar sobre o qual eu não consigo lançar luz, que eu não consigo iluminar, que eu não consigo ver. Mas que está ali de todo modo, faz sua moradia nômade nas sombras que se formam no jogo de luz e escuridão.
Eu cheguei do trabalho e tinha que ir pra academia. Mas decidi que não iria, que ficaria e tomaria uma xícara de café bem gelado e bem doce. Decidi transformar o mofo em meu aliado, me juntei a ele: escolhi me deitar pra ficar mofando neste dia úmido. Talvez depois eu me levante e vá cortar o cabelo, que está péssimo. Por agora eu quero me deitar e mofar um pouco, só um pouco, para eu sentir a delícia de estar na sombra, invisível.

Te mando um beijo

O sino da igreja mais próxima badalou: dezessete horas e trinta minutos de domingo. Eu poderia te mandar um beijo de onde eu estou, poderia ir ao teu encontro, mas eu não quero. Eu sinto muito ódio muito freqüentemente, raiva mesmo, vontade de me demitir dos meus projetos. Vontade de mandar um beijo para quem eu desprezo. Sinto raiva, uma raiva ruim e pegajosa, vontade de abandonar esse caminho e essa trilha na mata fechada que abri a facão.

Tem vezes que leio deitado na cama, só com a luz da cabeceira acesa, me dá uma tranqüilidade ao ver o apartamento todo escuro e só uma luz fraca iluminando meu quarto... E quando eu termino de ler eu me cubro e olho pras paredes do meu quarto, pras minhas roupas na estante e para o computador desligado, fico ali observando esse espaço que habito, que faço meu e que se faz eu mesmo: eu também sou minha própria casa. Aí eu espero o sono vir, e quando eu penso que ele quase chega desligo a luz. Mas tenho estado assustado com um barulho estranho que entra pela janela, sempre logo depois de eu desligar a luz de cabeceira, um som de balanço de praça que vai-e-vem como se houvesse alguém se balançando nele, o som é um ruído de correntes que vão-e-vêm. Será que tem uma criança, alguém sei lá quem, que se balança aqui perto de casa? Só eu escuto o ruído? Essa pessoa se balança até a hora de eu dormir, sempre à noite.

Há também outros sons, e uns cheiros, que escuto e que sinto. Sinto cheiros pelo corredor, um cheiro que não é nem ruim e nem bom, mas é um cheiro que sinto até eu entrar na porta de casa. Hoje quando eu entrei aqui no prédio senti um cheiro forte e horroroso, não se de onde vinha e não sei se ainda está lá, e lembrei de mim mesmo! O cheiro me fez lembrar de mim mesmo, não porque eu cheiro daquele jeito, mas porque... de alguma forma associei a impressão desagradável de senti-lo com uma imagem minha caminhando na rua com o cenho franzido.

Há cheiros que nos lembram e que nos constroem imagens. Senti raiva ontem, muita raiva, por causa dos cheiros e das imagens que senti e que vi. Odeio tanto isso tudo, me sentei numa mesa e bebi tão-somente uma garrafa de Original para não dizer que estava totalmente desacompanhado. Estou com os comprovantes de pagamento à vista no débito aqui na minha frente: chegada à 00:24, saída à 1:32. O cheiro de cigarro envelhecido e fumado às pressas, misturado às solas de adidas, nike e all star molhadas se cruzam e produzem náuseas em quem não adere com força ao pó, aos líquidos e aos comprimidos. Sentei à mesa e observei um rapaz acender o cigarro que ele fumou em menos de três minutos, o guri foi bonito quando a chama do isqueiro iluminou seu rosto enquanto ele inspirava o primeiro vento de nicotina e alcatrão ao fazer da mão esquerda uma concha sobre a ponta do cigarro. Bela luz do fogo do isqueiro que o fazia tão carente e tão disponível.

Mas odiei mesmo assim aquela fumaça e aquela imagem. A paisagem na qual estavam todos emoldurados cheirava mal. O que mais me incomoda é o fato de eu não saber onde pôr as mãos ou o que fazer com elas, e minhas mãos são grandes com dedos longos: se eu as deixo à mostra elas chamam muito a atenção e se eu as escondo elas também chamam a atenção porque me faltam, porque pareço amputado delas, porque meu corpo não é o integral. Mas nunca um corpo é um corpo integral, não é mesmo? Sempre escondemos alguma parte nossa que não nos permitem mostrar ou que não queremos entregar. Camisetas, cuecas, meias deixaram, entretanto, de ser peças que escondem os corpos para ser peças que promovem os corpos: camisetas osklen, cuecas CK, meias importadas (há grife para meias?). Mandei um beijo para quem odeio, sempre mando. Ele, desaforado, se deitou no meu colo, só de sunga e botas, e eu deslizei firmemente minha mão pelo seu corpo que quase esmagava minhas pernas de tão pesado de carnes e pêlos. O cheiro dele que se impregnou em mim, esse eu não odeio, mas mesmo assim beijei e mordi seu mamilo direito. Acho que o odeio de alguma forma. Na porta de saída ele já estava vestido decentemente e nos tratamos como desconhecidos, afinal de contas eu apalpei o personagem que ele encena no palco e não o homem remelento e com mau hálito que provavelmente ele acorda todo o dia. Deixei que ele fosse embora e guardei comigo só a sensação de pegar em suas pernas peludas, só o peso sobre meu colo, só o cheiro de suor. Nem seu sorriso, nem uma palavra de afeto me faria mudar de idéia.

Emails para uma jovem bicha - a bicha geneticamente modificada

Eu só me dei conta do que eu estava fazendo quando o avião sobrevoava o Paraná. E eu ia fazer o quê lá de cima, me diz? Dizer pra ficar na próxima parada pra eu voltar? Dizer pro piloto abrir a porta porque eu queria descer? Separar um pára-quedas pra eu voltar voando pra Porto Alegre? “Agora chupa que é de uva”, eu pensei.

São Paulo nunca foi uma cidade tranqüila pra mim. Sempre há um drama, ou eu querendo me jogar do quarto do hotel, como aconteceu da penúltima vez, ou eu querendo me prostituir, como foi dessa. Aquela energia competitiva, os desafios que as pessoas se impõem, a peleia pra conseguir um lugar no ônibus, um lugar no metrô e um lugar ao sol me incomodam. Mondo cane é brinquedo de criança perto da opulência com a qual todos tentam te patrolar. Desci no aeroporto e tive de pegar um ônibus, três metrôs e encarar, a pé e com mala, mais uns quinhentos metros de calçada até chegar no “hotel” – muitas aspas nesse “hotel”. No trajeto entre o aeroporto e a estação de metrô, feita num transporte urbano intermunicipal, eu repetia pra dentro de mim mesmo, tal qual mantra, “Jesus me ama, Jesus me ama”, fazendo criar um católico cheio de fé que não existe em nenhuma parte de mim pra me proteger dos perigos. Passei por um, dois presídios. Mais a marginal do Tietê. E entravam pessoas geneticamente modificadas a cada parada, amontoando-se entre as cadeiras e o corredor. As portas mal fechavam, e quando finalmente abriram, fomos todos cuspidos pra fora do ônibus e caímos dentro da selvageria de concreto da terra da garoa.

Aí me joguei na corrente humana daquele mar de gente que se digladia nos metrôs das cidades com mais de quinze milhões de habitantes. Mas eu queria poder parar pra ler as sinalizações, parar pra entender, pra assimilar aquelas informações escritas nas placas acima da minha cabeça que suspendiam setas e palavras indígenas como “Tabaquara”, “Tatuapé”, e eu não conseguia parar porque aquelas pessoas geneticamente modificadas vinham contra mim e a meu favor se chocando contra minha mala e rasgando minha camiseta! Rapidamente me coloquei ao lado de um segurança – eu não sou palhaço – e perguntei como eu fazia pra chegar na avenida Paulista. O olhar de escárnio e de desprezo, de estranhamento e de pilhéria que aquele homem me lançou jamais vai se descolar das minhas lembranças destes tristes e intensos seis dias de suburbano exilado na maior metrópole da América do Sul. Comprado o bilhete, ainda protagonizei uma última cena de comédia para as centenas de indivíduos que por mim passavam: eu tentava fazer com que o bilhete fosse lido pelo sensor magnético da catraca, como se fosse um cartão, ao invés de inseri-lo civilizadamente na reentrância pela qual ele seria ‘comido’ pela máquina. Ali fiquei nessa atividade inútil por uns breves quinze segundos até entender onde de fato eu tinha de colocar o bilhete, tempo suficiente para arrancar risos dos transeuntes – e de mim mesmo, é claro.

Chegando no “hotel”, marchei com quinhentos reais de cara. Pensei, então, que eu poderia economizar na alimentação, uma vez que todos hotéis que conheço – esses sem aspas – têm frigobar nos quartos. Mas esse não tinha. Eu estava na oitava cidade mais cara do mundo, no bairro mais exclusivo do Brasil, sem a menor opção de baratear os custos de uma viagem absurdamente planejada. Pois então: eu peguei um vôo na companhia aérea mais barata do país, pra descer vinte e cinco quilômetros do local da minha hospedagem, peguei ônibus e metrô, andei centenas de metros com minha mala e minha mochila pra chegar num “hotel” que se diz “hotel”, sem dinheiro, sem rímel e sem batom: compreendi que eu era pobre. Eu era uma retirante.

Nos dias seguintes, fui peruar pelos entornos da avenida Paulista. As bichas de lá só existem pelo corpo e para o corpo; tudo o que adorna o corpo, tudo que estiliza o corpo, tudo que se joga sobre o corpo é índice de diferenciação e de hierarquização entre elas. Ciborgues de nosso tempo, iPhones, iPods e notebooks Apple turbinam o corpo porque são suas extensões chiques e caras. Marcas de roupa nacionais são lojões de quinta categoria: D&G é pano de prato pra elas. Não que de fato elas tenham dinheiro, porque sei bem como funciona esse circuito. Elas comem um pé de alface ao longo da semana, elas roubam água dos bebedouros dos shoppings, quando estão a ponto de desmaiar dão uma lambida no sabonete líquido dos banheiros públicos – se houver sabonete – mas compram calças de luxo, tênis da moda e aparelhos eletrônicos importados. Tudo isso num esforço de ser, ser aquilo que se deseja, ser aquilo que se admira, ser aquilo que racional e matematicamente não era possível ser. Não acho que é uma fachada, não acho que elas aparentam ser o que não são. Penso que elas são. Não há mentira nessas estratégias, não há ocultação ou falsidade. Elas são sinceras, são honestas, porque elas são aquilo que elas podem ser. Eu, e somente eu, era a bicha geneticamente modificada ali.
CONTINUA........

Emails para uma jovem bicha - um email offline

Oi, querid@!
Estou offline por uns tempos, ok?
Meu computador está no Pronto Socorro. Não há muitas chances de ele voltar a ver a Luz: corre sério risco de morte. Infectou-se com um vírus.
É incrível, mas quando eu digo para as pessoas que meu computador estragou por causa de um vírus, e que eu perdi todos meus arquivos com essa tragédia, o culpado sou sempre eu. É como se eu tivesse contraído aids. "Mas como?! Justamente tu, uma pessoa com informação, tão inteligente, tu sabe melhor que muita gente que tens que investir em prevenção?! Tens que fazer back up de todos os arquivos, tens que ter cópia de tudo, e agora? O que vais fazer? Viste, bem feito por ter sido irresponsável!". É ou não é o mesmo discurso moralista?
Minhas férias foram uma viagem ao centro do inferno de mim mesmo, sem escalas. Versão sem cortes, estendida, do diretor. Te conto depois que meu Windows Vista voltar a viver.
BeijoOffline!