Depois de tanto tempo

Só não escrevo aqui porque me falta tempo e iniciativa.
Escrever é sempre um exercício de resolver, elaborar e criar problemas; é o que menos quero agora. Tenho me sentido feliz em limpar meu apartamento com muito desinfetante e álcool (apesar de o álcool não limpar nada, o importante é a sensação de limpeza que ele me dá, obrigado!). Aliás, álcool não só pra limpar, mas também pra desprender, esquecer, fingir que não viu e que não escutou, fantasiar: em suma, acreditar que desinfeto-me por dentro. É incrível, mas na mesma medida em que me sinto intoxicado (pelo álcool, pela gordura, pelo pessimismo e pela derrota [sim, o gosto do pessimismo é tão insuportável quanto o da vodka de garrafa de plástico]), eu desinfeto. Dá pra comer no chão da minha cozinha, tomar um drink no meu vaso sanitário. Queres?
Escerver é sempre isso, essa dor de traduzir. É necessário escrever sobre tudo, o tempo inteiro?
É melhor parar aqui, pois se eu continuar haverá mais problemas resolvidos, elaborados e criados. É o que menos quero agora; estou feliz com os minhas correntes de sempre.

O último

O suspiro que solto no ar quando te vejo é tão degradante!

Cartas a uma jovem bicha – eu sou assim

E se eu choro é porque sou ator, e se eu desejo é porque sou ator também. Eu não posso assim, do jeito que tu quer eu não posso, eu não consigo. O sorriso descarrilhado e os olhos afiletados eu só descobri depois. Mas depois pra mim não é longe, não é inalcançável: eu sei o que fiz, eu sei que eu não quis, e eu não me arrependo. Eu me arrependo, talvez, dessa minha impetuosidade, dessa minha vontade de ser trator. Minhas mãos longínquas, com dedos superlativos, te escrevem isso porque estão desocupados. Porque se tivessem outros corpos pra digitar (que não fossem esses tão solícitos quanto são o laptop [nem tão ardentes quanto fossem meus dedos]) elas estariam calmas e dançantes talvez folheando um livro de Proust ou um livro de ti, mas de qualquer forma estariam aqui e não aí onde tu lês isso que escrevo. E o que fazes aí? Por que motivo não vais ler, ou estudar, ou dialogar consigo? Por que lês isso? Não há nada aqui: só há imitação e deboche, recalque, repressão, mas tudo com um pouco de doçura. Porque sempre lembro de ti e por onde tu andas e por onde tu estás e por onde tu respiras me diga que eu quero saber porque tu me faz falta e teu corpo se encaixa no meu... morreste? Eu pensava que sim. Eu levo comigo um pouco da tua morte? Eu ainda penso em ti, ainda te quero e ainda te procuro nesses outros corpos: cadê teu corpo? Procuro tuas letras iniciais, teus recuos de parágrafos, mas me diz: onde estás? Se soubesses o quanto minhas mãos aracnídeas batem e rebatem nesse teclado negro à tua procura. E isso acontece não porque sou bêbado (também porque sou bêbado, mas acima de tudo porque sou uma lâmina, um filete, uma fatia bem fina [uma coisa delgada através da qual passa tudo aquilo que mais desejo], um sopro e um riso, uma cédula ou moeda que cai do bolso, um esquecimento), elas acontecem porque não há nada. Nada. Nunca houve. Cadê você em mim? Não há! Saia já daqui: não há motivo nenhum para eu me enrolar nos lençóis verdes com perfume amadeirado. As veias que cobrem minhas mãos mantêm a aranha que desliza pela teia das minhas confusões. Te amo mesmo assim. E aí tu estás, não é?!?! Insinuando-se pelas minhas superfícies e se querendo pelas minhas aderências!!!! Te denuncio!!!! Onde vais querer ficar (fica comigo [fica na minha mão, na minha boca] fica no meu quarto), onde vais querer dormir? Sempre dormes comigo de algum modo, mas nunca de um jeito tão traduzido, tão ligeiro, tão simpático. Saia daqui: não há nada pior que um corpo simpático, por favor, saia agora para sempre.

E cabe mais outra pergunta

O que é "ser quem nós somos"?
Qual é nossa identidade? Como ousamos ser - e dizer que somos - alguma coisa?





Me poupem, né?

Álcool

Bebo pra sentir o torpor, pra perder de vista, pra perder o horizonte. Não bebo pelo gosto da cevada, nem pelo gosto do milho fermentado, ou da uva com gás. Bebo porque quero sair de mim, porque quero não ser eu. Há algum problema nisso? Por que haveria um problema - qualquer que fosse - em querer não ser quem é? Há vezes em que não quero ser quem eu sou, e coincidentemente é uma vez por semana, e daí eu bebo. E só bebo. Poderia fazer outras coisas, consumir outras substâncias que - ok! - também dão o mesmo barato. Mas eu, eu mesmo, eu prefiro beber. Pôr pra dentro líquidos. E não sólidos, nem pó, nem fumaça. E daí? Tem gente que deixa de ser quem é atravessando a rua. Outras deixam de ser quem são na internet, usando apelidos. Tem gente que deixa de ser quem é cantando, ou escrevendo... Por que motivo eu sou visto com maus olhos porque tento deixar de ser quem sou ao beber? Cabe a pergunta: "por que deixar de ser quem és?" E retribuo: "que saco ser eu o tempo inteiro!".

Beleza

INTERLOCUTOR diz:
bonita boca que tu tem
jsb diz:
é só uma boca, mais nada
INTERLOCUTOR diz:
é sim
INTERLOCUTOR diz:
mas é bonita
jsb diz:
tenho outras partes mais bonitas
INTERLOCUTOR diz:
por exemplo?
INTERLOCUTOR diz:
adoro partes
jsb diz:
mãos e antebraços.
INTERLOCUTOR diz:
maos...
jsb diz:
adoro minhas mãos.
INTERLOCUTOR diz:
sou louco por maos e pés
jsb diz:
meus pés acho feios, mas mãos acho bonitas.
INTERLOCUTOR diz:
ng é de todo bonito, afinal
jsb diz:
não!! pelo contrário!! somos todos bonitos integralmente. Só há alguns que não reconhecem nossa beleza

Andanças

Alguéééééémmmmmmmm???

Alguééééémmm aí foooooraaaa?

Tá me ouvindooo?

Socoooooorrroooooooo!

......... acho que vou ter que seguir até o próximo vilarejo ....................

(Que parte de mim realmente importa: a voz pra gritar, as pernas pra andar, a saudade pra voltar, o medo de seguir? Do que eu preciso, de que parte de mim eu preciso? Qual delas eu vou ter de arrancar fora? Se eu não tivesse chegado tão longe em tão pouco tempo, acho que me cansaria disso, acho que não seguiria para o próximo vilarejo. Cansei de gritar perdido na estrada e nunca obter respostas. E também cansei de encontrá-las quando eu me satisfazia com minhas dúvidas cretinas, quando eu estava feliz em ser burro. Se eu não tivesse chegado aqui, eu pararia. De que servem minhas unhas bem cortadas e bem limpas em noite de andança de um vilarejo pra outro?)

Drooooga! Quebrei o salto, porra.