haveria uma sensação a respeito da qual eu ainda escreveria: o zunido nos ouvidos depois de muita conversa; o zunido nos ouvidos depois de um show; os zunidos nos ouvidos depois de um dia pesado. Eu escreveria sobre o zunido, sobre o silêncio adornado pelo zunido. Não se restringe a uma onomatopeia: é um constituinte do profundo zelo do não-som. haveria também o sol se pondo, a perpendicularidade da luz, a sombra móvel dos telhados. Esvair-se no oeste e toda correnteza de fé que se vai no pôr-de-sol. Depósito de confiança no futuro.
E se o tempo fosse apenas o erro do sentido? E se houvesse somente um dia, sempre um dia? "Sempre" já não seria eternidade, mas uma partícula de algumas horas de luz depois da qual só restaria o zunido.
O zunido, o silêncio, a sombra, a luz perpendicular.
O tempo surpreendentemente tomando meu corpo, e a pele das minhas mãos e os fios do meu cabelo.
Eu ensurdecendo, pedindo para repetirem a última sílaba e a última palavra, ignorando um zum-zum-zum que diz meu nome.
As marcas de oxidação do ferro da sacada, marcando o "sempre" (chuva, sol, dia e noite marcando o ferro).
O silêncio de meses que se fez aqui, entre um texto e outro, caracterizado pelo zumbido do vácuo daquilo que já foi tão falado em outras vezes e que continua sendo sentido, e fazendo sentido, conduzindo "sempre" para o fim e para o desejo de fim, para a dúvida sobre o porquê de estar aqui, e vivo, sendo iluminado por uma luz perpendicular que parece estar "sempre" se pondo.