não haja. não tenha coisa nenhuma. o desejo de toda boca é o vinho e a cerveja que não acabam. o copo sem fundo e a carreira sem parede. não haja em si mesmo. não exista em si: eles dizem. mas o que é mais forte que isso, o que sobrevive apesar do cinismo: tem utilidade? desgraças virão e já batem na porta. se eu fosse mais jovem eu comeria um sorvete, mas já sou um senhor. "não obrigado". dias terríveis esses que eu escolhi pra mim. bem feios. permaneço na loucura da limpeza, na coisa feia da limpeza, desinfetando tudo. tornando tudo, todos os espaços da minha vida recipientes tocados pelo álcool e pela água sanitária. todos os recipientes da minha vida são sanitários. em todos faço merda.
mas hei de limpá-los.
como é possível, meu deus, ser tão direto como no ACREDITA EM DEUS, mas eu bem falso e bem feio faço a mentira da coisa que tu me quer: tu me quer? é CRENÇA EM DEUS me querer e me ter e estar aqui (por um momento foi tão leve [e demorei pra digitar essa palavra "leve"] mas se fosse coisa boa de me ouvir que quero seu sorriso Santa), minhas notas musicais no teu BROKEN HEART.
a sua melhor escolha, ele disse. e eu acreditei. e eu vim, eu peguei o avião e voltei. a sua melhor escolha, ele disse. e eu acreditei, achei que era o mais correto. a escolha sempre errada é aquela que fazemos pelo outro: vivemos o sonho do outro, elegemos os critérios do outro, acreditamos no que o outro acredita. e eu voltei para viver o sonho dele. qual o resultado? quando a maquiagem do dinheiro despenca - pois toda maquiagem despenca - eu vejo concretamente os resultados daquilo que escolhi: tristeza. sou triste, sou um homem triste, sou um professor triste porque quais viver o sonho de outro. a mim não é dado mais o direito de sugerir "ingenuidade adolescente". estou envelhecendo muito aceleradamente. minha pele, sobretudo a do rosto, vem adquirindo uma textura estranha, ressecada, carcomida e cheia de vincos. não posso mais alegar que eu era jovem e inexperiente: eu vim pelo dinheiro. não há nada pior que o dinheiro: aquele montante que se tem, mas que na verdade nos tem. tudo o que o dinheiro me trouxe, tudo, eu devolveria. e conquistaria novamente sendo pobre. as viagens, as roupas, a cerveja, o sabonete, o desodorante: eu ainda seria alguém sem nenhum desses que eu comprei com o dinheiro que ganhei. conheci pessoas que perderam muito; pessoas que não tinham nada, que eventualmente ganharam A MAIS e que perderam. sobrenomes e vários cartões de crédito não valem pra muito - mas pra algo. prefiro ser pobre, ser invisível, ser ninguém - não é isso que vocês pensam de quem ganha menos? na minha beleza eu encontrei alguns princípios, pois minha beleza tem retidão ética.
responsabilizar-me pela minhas escolhas.
revisar minhas posturas e pedir desculpas quando crer que estive errado.
dizer da minha revolta quando algo me revoltar.
entristecer, alegrar, chocar, desprezar quando for necessário fazê-lo.
dormir 8h por noite. bater uma punheta a cada 2 dias.
convencer-me de que não há justiça divina, nem justiça humana, e que a vida é uma só e é a minha.

permitam-me sonhar e viver meu sonho; caso contrário não os deixarei dormir.