não há garantias, não posso estar seguro nem afirmar como testemunho, mas não devo suportar até o fim. é provável que o fim chegue sutil, sem anúncio, inaudito e imprevisível, pouco antes da curva gloriosa do nascer do dia. hei de ter cansado de comer diariamente o mingau amargo da comiseração. ao que tudo indica, sofrerei de certa vertigem causada pela altura. terei dificuldades em transpor o parapeito e o farei como quando criança eu transpunha o cercado do berço. ainda não estou certo se estarei de frente, encarando o sol em meia-lua subindo a linha do horizonte, ou se estarei de costas, tocando as pontas da sombra da minha cabeça. é como um nado sem sinalização de chegada à borda da piscina. quando as palavras são duras, nenhum chão está à altura de impor-se ante a queda do corpo. cada um possui seu próprio e onipresente empuxo, sua intransferível força centrípeta, que apontam para seu não-herançável oco pesado. cada um tem sua queda, caída desde a beirada arrombada de um parapeito. não posso ter certeza.