pequenos animaizinhos; não era um monstro grande, horrendo, que o atormentava. eram pequenos animaizinhos. três ou quatro vezes ao ano ele tinha certeza de que era habitado por vermes. compunham, esses animaizinhos, o reino de seus "companheiros". desde aqueles que habitavam os poros de seu nariz, causadores da acne severa, até os pequenos escorpiões, aranhas e cobras que ele supunha dormir consigo. supunha deitar-se na cama e eventualmente encontrar um desses entre os lençóis - razão pela qual sempre estendia os cobertores e batia os travesseiros na parede antes de dormir. acreditava que ao estender os cobertores e ao bater os travesseiros ele mataria os animaizinhos ou pelo menos os espantaria, faria com que fugissem. mas sabia (fantasiava...) que voltariam e que se aninhariam ali, num canto fofinho, escuro e quente. dormindo com pequenos animaizinhos peçonhentos, ele sonhava. e não sonhava com um monstro recorrente, aterrorizante. sonhava com pessoas. três a quatro vezes ao dia ele tinha certeza de que um dia teria um namorado. compunham, essas pessoas, o reino de seus "fantasmas". desde aqueles que habitavam esses sonhos diurnos, causadores de distrações no trânsito, até os pequenos amantes, maridos, amigos-coloridos que ele supunha dormir consigo. supunha deitar-se na cama e eventualmente encontrar um desses entre os lençóis - razão pela qual perfumava-se com colônia e hidratava a pele seca com creme antes de dormir. acreditava que ao perfumar-se e ao hidratar-se ele conquistaria as pessoas ou pelo menos as encantaria, faria com que voltassem. mas acordava (relembrava...) e sabia todos os cantos fofinhos, escuros e quentes da cama e de seu corpo completamente vazios, abandonados. sonhando com pessoas que o desejassem, ele acordava. pequenos escorpiões, aranhas e cobras espreitavam-no no quarto. pequenos animaizinhos;