A ação Indedicatóra

Verdejantes, 02 de janeiro de 2015.

Prezados Senhores,
Presas Mulheres,
Prendidas Crianças,

Que houvesse ao menos um, Senhores, porém não.
Que houvesse de dois a quatro.

Nunca houve dedicação antes por estas minhas terras. E agora escrevem meu nome já nas primeiras páginas de um romance. Enganosa impressão, essa que fica, na folha e entre os leitores, de que eu me espalharei pelas páginas. Não sou coisa que se dilua em 200 folhas frente-e-verso. Concentro-me nos dedos a digitar por dias e meses. Saio em palavras quando bem entendo. Ao contrário das Senhoras, presas, e dos Senhores de igual mente, não sou protagonista. Bovary, Karenina: não. Sou um leitor em ação, em dedicação.

Por entre a virada das folhas de papel havia um veneno. É por causa dele que Vos escrevo - especialmente Vós, Prendidas Crianças. O veneno corrói os olhos de quem o lê, a pele dos dedos de quem vira as páginas. Polui a mente de quem chega a saber do romance, do seu título, da sua coisa toda interna. Não deem a Vossas Crianças um ai que sirva em seus cadeados. Não lhes sirvam comida às asas, às coisas emigratórias. Observem bem e controlem, por onde o veneno escorre. Corre-se o risco de que Mulheres, Crianças e Senhores não saibam mais, sob o efeito do veneno, se são presos, prezas, prisioneiros. Cuidai de Vossas Crianças; elas sabem demasiado o que fazem.

Ademais, certifico-me de rubricar cada página frente-e-verso.

Certo de sua Ciência, e desejando dedicações futuras nas quais eu possa me espelhar, dedico dedos introdutórios para próstatas ingênuas, leitoras do romance.

Cordeiramente,
O Dedicado.