Google No-Maps

Não vou te dar meu CEP. Meu corpo não precisa de um CEP. Eu só quero poder caminhar nas ruas sem ter esses números ou esses títulos: 27 anos, doutor em Educação, 21 centímetros de pau, 89 centímetros de cintura, quinhentos reais negativo no banco, três estantes de livros, olhares de deboche e um mestrado. Adianta? Nada. Só traz mais cobrança.

Não me identifique, não saiba onde eu moro. Não saiba quem eu sou, não procure meu rosto, não seja feio e me critique (não os dois ao mesmo tempo). Não duvide de mim. Não me desacredite. Eu posso querer rasgar teus tímpanos e tuas bochechas com o fio do vidro da taça de champagne. Sou cruel. Diga o que eu quero, ou a morte te espera...

Não me identifique, não diga quem eu sou. Não me acuse, não use meu nome em vocativos. Não fale de mim, não me cite: assino como “olhos castanhos”, ou “barbudo”. Assino esse texto como “magricelo”, ou “barriga-de-vermes”. Assino como “triste”. Deu pra me pegar no close? Ai, obrigado, eu fico melhor pelo lado direito mesmo! O nariz ficou grande e o botox vazou pela bochecha esquerda. As câmeras agradecem. Mas eu sou feliz, eu adoro o que tu diz de mim, acho que te amo.