há mais, porém. considerem aspas duplas antes e depois de uma palavra: o que resta dela? o que fazem a uma palavra aspas duplas antes e depois? há um aviso na antessala de cada palavra advertindo aqueles que ali entretêm para não abrirem a porta mais fácil – ou a já aberta. aspas duplas antes e depois de uma palavra suspendem seu sentido rápido ou fácil e convidam a escolher estrategicamente a porta dos fundos de tal palavra. (sim, as palavras têm portas dos fundos.) aspas duplas antes e depois de uma palavra avisam: não tomem o sentido como dado de antemão; escolham, forjem o sentido desta palavra; aqui está escrito algo que pode ser outra coisa, outra pessoa. aspas duplas, no jargão acadêmico, é também aquele decalque da palavra do Outro que empregamos na construção do sentido do nosso próprio texto. em um artigo acadêmico, tese, dissertação, monografia, ensaio, aspas duplas indicam um poro aberto do texto por meio do qual acontecem a respiração e a comunicação com aqueles e aquelas que já pensaram antes de nós. quando usamos aspas duplas em um texto acadêmico, fazemos da voz do Outro a nossa por um instante com o objetivo de avançarmos o sentido do texto em direção a uma porta estrategicamente escolhida. aí aspas duplas advertem que aquilo que está compreendido entre elas não é de nossa autoria; inobstante, tatuamos um sentido estratégico da voz do Outro no nosso texto para construir um argumento, para movimentar a cadeia da linguagem apoiando-nos naquilo que já foi dito. pois: tatuarei também um par de aspas duplas na parte frontal do ombro esquerdo e um par de aspas duplas na parte frontal do ombro direito. eu sou uma pessoa entre aspas: eu sou uma pessoa cujo sentido está suspenso: eu sou uma citação da voz do Outro.

--XXX--