Aniversários

No primeiro ano de namoro, comemoramos todos os meses. Meses como se fossem anos. Cada noite de cama compartilhada, cada dia amanhecido, cada reinado da escova de dentes de um na casa do outro, cada briga, cada gozo têm um aspecto de elefante. No primeiro ano de namoro, cada reconciliação é um novo começo e não um remendo mal feito numa roupa já puída pelo tempo, absolutamente demodê. Cada pedido de desculpas tem a mesma função de uma nova roupa estendida no varal: limpa, cheirosa, quase pronta e esperando para ser usada. No primeiro ano de namoro, o corpo de um jamais será uma formiga para o outro: é uma serpente, uma jiboia que enrosca, que sufoca, que aperta – mas não mata. Cada almoço ou café da tarde precisa ser detalhado, cada telefonema não pode ser suspeito. Não pode haver comunicação anônima, comunicação oculta, códigos e simbolismos. Tudo precisa ter uma vontade de transparência, ou ilusão de sinceridade, porque a proporção de uma semana, de um dia e de uma hora é de uma baleia para um verme. E a primeira noite separados, e o primeiro dia de mau humor, e a primeira agressão e a primeira lágrima, tudo pesa mais que rinocerontes. A metade de um ano nunca é só a metade; é sempre mais, sempre mais importante, mais densa, sempre significa mais que as próximas metades dos próximos anos. Os próximos seis meses talvez serão, aí sim, seis meses. Mas não os primeiros seis meses. Os primeiros seis meses são tigres albinos. No dia de aniversário do nosso namoro, são dois burros que assopram velinhas?