Convalescendo

Oi, pai; oi, mãe

Escrevo rápido hoje, com menos do que eu gostaria de dizer, porque estou me recuperando.

Estou parindo um livro. Às vezes eu gostaria de contar que já o tenho escrito, mas eu apenas digo: tenho um livro dentro de mim. Ou dois. Não importa. E vocês me disseram tantas vezes pra eu ser discreto... e como eu pude? Nunca fui. Duvidem do meu corpo quando ele escorrega, duvidem do meu olhar. Eu só finjo por vocês. Duvidem da minha alegria, da minha beleza. Não sou belo; nem o pai, nem a mãe são.

Estou fugindo. Nem de longe suspeitarias, mas lá me vou. Crês em Deus Pai? Já fui. Essa doença feia que herdei: ficar pedindo desculpas, sentir-se culpado. Estou grávido de um livro, te interessa?

Há tantas frases que eu gostaria de te dizer. Mas siga, vá, não te pares por mim: eu só vou te atrasar, te dizer chega, te censurar. Caminhe adiante.

Não há nada pior que o corpo que caminha adiante.