Desterrei algo e alguém do fundo de tudo, graças a uma arma na cabeça e um pouco de medo no coração. Tudo poderia ser feito, menos o que eu gostaria. Lembrei do gatilho da arma, da largura do cano, do gelado do ferro e aço nas têmporas. Ameaçaram me matar uma vez. E havia um rapaz junto comigo, tão assustado quanto eu. Usava suspensórios. É precisamente esse vácuo e abismo que me separa dele que eu preciso desvendar. É necessário descobrir. É fundamental elucidar. Tudo se explica por este momento: eu estava esperando a fila do banco. Fui chamado pelo rapaz de suspensório. Ele gerenciava meu dinheiro. Ele era lindo, ruivo, com barba, olhos verdes, corpulento e musculoso. Uma gangue de assaltantes invadiu o banco, um deles apontou o revólver para minha cabeça. Eu vi a arma e o medo através dos olhos do rapaz de suspensório, pois no momento da invasão eu estava de costas. Os assaltantes levaram tudo. O rapaz de suspensório perguntou: "está tudo bem"? Eu respondi que sim, mentindo. Está tudo aí, toda as coisas e todas as cores (amarelo). Todos os corpos. Só em mim tudo houve: o bem e o mal, os juízos que separam e dividem. Toda a luta pelo convecimento está expressa no velório. Um velório para o qual eu precisei convencer as pessoas a participar porque ninguém queria estar lá. E houve pessoas que se atrasaram. Eu as encaminhava apressadamente para a van que as levaria para o enterro. Tudo haveria de recomeçar depois de eu ter morrido.