a descida espiralada da negação e as rugas ríspidas da rua; o que deixei hoje no assento, caindo do sacolejo do ônibus; por onde andei, me pergunto, como cheguei aqui; por quanto tempo houve a esperança de que tivesse sido diferente, a esperança de que ainda será; por onde deixei tudo que aqui agora me falta, que nunca foi meu e que sempre julguei de minha propriedade; como não percebi que era aqui afinal, o fim, a última etapa, o degrau por todos considerado o mais alto - que é para mim apenas o primeiro; e eu já cansado da escada; sinto pena profunda de mim; em qual escolha decidi torto, decidi enviesado; em qual espelho eu olho, em qual espelho curvado; não haveria será nenhuma chance de vida outra; não quis a sorte de nada perguntar e de apenas viver; eu, macabeia que se crê pensante, que não se salvará da ironia do asfalto; no asfalto acabará a descida espiralada: nas rugas ríspidas da rua.