Desde ontem experimentamos o feriado. Nas beiradas do sábado com o domingo, diminui a culpa de levantar da cama às 14 horas.
Mas eu estaria mais tranquilo com chegada de mais uma semana, a tal semana, se eu pudesse contar com um apoio que não viesse estritamente de dentro. Hoje escutei minha própria voz somente às 16 horas, quando eu lavava uma panela. Estranhei. Não costumo ficar tanto tempo calado na minha própria presença. Tenho ficado, contudo. Um apoio que não viesse de mim mesmo, que não se sustentasse por esse solo flácido que sou eu. Há algo que me cala na vida, na coisa toda viva. Não me considero à altura do empreendimento de viver. Todas as semanas são cruéis.
Se saio da cama às 9 horas, todo o meu dia se confunde. Os ponteiros do relógio se dobram, os números se esvaziam. Tamanha é a necessidade de produção, rastejo até a meia-noite. Horas produtivas é o que eu mais custo a ter.
Fico em silêncio, às vezes, na sala. Com as janelas abertas, geralmente à noite. Só escuto o som da geladeira. Fico em silêncio e deixo tudo me invadir: a geladeira, o vento, o céu, o calor e o frio. Quando estou fortalecido, permaneço em pé na sacada apenas deixando o tempo passar em mim. O tempo é tudo. É uma grandeza que se apropria de nós, à revelia.
As pontas dos meus dedos, onde mais tocarão?