[...]arei uma lista com nomes e um "muito obrigado" no final, bem simples. os nomes serão estampados com fontes de impressora; a minha assinatura será a mão, cambaleante, pois estarei sob efeitos de remédios. penso eu. não é muito óbvio pra mim se farei de consciência nua. agora, pensando naquilo que a vida pode se transformar, tendo a achar que pode ser. tem uma dor fundamental - não porque é importante, mas porque é iniciante: está em mim desde sempre. pessoas me deixam. e me deixam porque sou algo ruim, ou feio, ou inútil. buenas, trata-se de uma experiência báááásica de quem está no mundo, e não configura crise pra uma parte dos indivíduos no mundo. pra outra parte, é o estopim pra o "foda-se". pra outra, a chave da cadeia. para a maior parte deles, suponho, trata-se de um descolamento do mundo lá onde o mundo deveria suturar-se às pessoas. lá onde o mundo deveria magnetizar os seres, há algo que os repele e que os expulsa do âmbito do vivível. um chamado a vivermos aqui, mas sem nós. é bem verdade que o mundo precisa de gente ruim, feia e/ou inútil para que as boas, belas e enérgicas sintam-se isso e mais que isso. acredito, porém, que há outros ganhos em estimular os indivíduos a surfar na maré de merda. porque a dor é fundamental: é estruturante da relação com o mundo, com o trabalho, com os amigos. é indicativa da forma de término: sempre radical. a onda que quebra, turbulenta, da qual queremos sempre sair, é ainda acrescida do péssimo gosto e cheiro. não tenho suficiente formação e informação para saber se tal experiência fundante modifica ou não a estrutura do cérebro, genes, relações entre as células. enquanto estiver aqui, contudo, saberei que me foi dado um script. não sou alguém que segue ordens, o que significa que posso ser feliz. ou apenas leve - é o meu sonho. ser alguém diante de quem não há elemento que puxe, que cole, que magnetize. não quero entrar pra história - quero apenas sair dela com o mínimo de dignidade. há uma dor fundante: querer-se, estando no mundo, menos. não porque o mundo não seja bom o bastante, mas porque apenas não se quer. não se tem vontade de estar nisso que foi feito do mundo.  e então não é mais problema o mundo em si, mas as práticas que o tornam o que é. entendo, mas não me chame para ser militância pró-salvação-do-mundo: digitar a palavra "militância" é próximo de digitar a palavra "satânica" e "militono", e acredito que tais atos-falhos devam ser incorporados. quero um mundo vivível não apenas por ser belo mas por ser razoável: que ouça minha razão. suponho um mundo corpóreo, organísmico (novamente): um mundo que vê, que ouve, que sente, que processa os sentimentos; um mundo sensível. penso que este é um mundo sensível, este no qual vivemos, o mundo que é. mas a sensibilidade geral que o faz, que o organiza, apenas não deixa tempo para que minhas partes côncavas se alinhem às suas convexas: como se fossem engrenagens, elas passam muito rápido por mim, desabilitando quaisquer acoplamentos. e ignoram que eu tenha parte convexas que poderiam contribuir para esta paisagem (triste) que vejo, na qual vivo. o fato é: este espaço vacante que tenho, e no qual as coisas do mundo se enganchariam em mim, se torna inútil; e aquilo que tenho para dar, eventualmente a quem puder, não é julgado relevante: sou uma engrenagem cujas vilosidades (sou um intestino?), cujas dentições (sou um boca?) são permanentemente desgastadas e apagadas. torno-me uma roda solta, reprodutora de si mesma num perpétuo movimento. não como nem cago nada. não sinto a dor e o gozo das outras dentições me penetrando. não me encaixo, afinal. e é isto que toda a maquinaria objetiva: que sejamos mais uma roda infértil girando dentro do motor. mas a dor fundamental não permitirá que isso aconteça. é próprio de que se sente ruim, feio e inútil que haja estremecimento, choque, vibração, atrito: entropia. haverá sabotagens. quis-me livre e cá estou implo[...]