[...]eito de ser feliz. pois não acredito nisso. não acredito, tampouco, que ele estivesse indisponível, indisposto para relacionar-se. "não se trata de um problema com você, mas de um problema com os outros em geral." eu não sou os outros. [acabei de lembrar que um dia ele me disse essa frase, mas saindo da boca da mãe.] é claro que se trata de um problema comigo. mas viver o esplendor da rejeição não admite atalhos. há de se bater um todas as portas desse palacete. às vezes penso em mudar de cidade. ou beber muito. optei por comprar novas roupas, coloridas e estampadas, curtas. quero expor meu corpo. e por falar em corpo, me exercito todo o dia. e por falar em corpo, mudei a dieta. e por falar em corpo, fiz mais duas tatuagens. e agendei a próxima para daqui 3 semanas. às vezes penso em pedir demissão do meu job. sinto que não sou descolado o suficiente pra ele. passei a detestar cerveja. ele queria alguém mais alegre, mas nossas playlists no spotify são tão parecidas. a cada dia que acordo vou a um velório diferente. de uma abelha no tanque, de um mosquito no ralo, de uma aranha na janela. cada cadáver conta uma história, e eu os honro por isso. portanto: é claro que o problema é comigo. às vezes quero só chorar, sobretudo quando chove. se me fosse dada a opção de recomeçar minha vida já sabendo do que aconteceria só para não repetir, eu escolheria morrer de vez. porque as novas escolhas me levariam a erros piores. ele não foi um erro, embora eu tenha sido um para ele. cogito morrer, sem dúvida, mas com isso não preciso me preocupar. desço um degrau por vez para melhor respirar o ar úmido desse porão. toco as paredes para bem sentir o mofo entre os dedos. quero conhecer todos os cômodos da recusa. nas últimas semanas sou só o pó de glitter, sem brilho e sem cor. há dias em que tenho vergonha; em outros, só cansaço. é claro que penso em fugir, sumir, desaparecer. me sinto descartado. trocável como um bonecão de posto de combustível que não tem direito de ser f[...]