vou a um café. vendem-se livros ali. sento de frente para a estante. lá está ele, vibrando, gritando. olho pra ele, e dói. baixo a cabeça. ligo o computador. ele late e mia. peço um café, leio um artigo em inglês sobre uso de medicamentos. preciso de qualquer coisa que me arranque da mesa, da prateleira. ele ainda canta. chega o café. faço um cigarro. vou pra calçada. fumo o cigarro, empurro o café pra dentro de mim. ele assovia e pisca pra mim. volto pra mesa. uso de medicamentos nos estados unidos. altas taxas de prescrição de antibióticos para crianças. ele me lambe da prateleira. milhares de dólares gastos com tratamentos de infecções respiratórias agudas. um rapaz bonito chega sozinho, senta à mesa, olha no celular. fantasio que ele pode estar te esperando. mais um date, mais um encontrinho, mais um contatinho. ele uiva. o rapaz bonito só pode estar te esperando. tu só pode estar vindo encontrá-lo. tu só pode ter me esquecido. ele muge e rosna pra mim. tratamentos com antibióticos devem ser reduzidos ao mínimo de dias. ele é teu novo rapaz. vocês são lindos juntos. peço mais um café, faço mais um cigarro. fumo na chuva. eu fantasio que vocês vão ficar juntos para o resto das suas vidas. tu só pode estar feliz, e eu, molhado. te conheço, te desejo. e tu solto no universo procurando outro e outros. te conheço e eu preso naquela praça, naquela tarde. nem um minuto se passou pra mim desde então. eu quero que isso pare, que isso termine. que horas tu chega pra encontrar teu boy? na prateleira ele me chama pelo meu nome.