Mais e mais a cada dia

Ainda sigo tentando cooptar os homens que por mim passam na rua:
Quando percebo que eles vêm, fixo meus olhos por toda sua superfície. Sou alguém bastante visual, me espalho pelos seus olhos-nariz-boca, puxo seus cabelos, mordo suas mãos e roço de leve minha barba pelas suas pernas. Absorvo toda sua raiva ou seu deleite, todo seu desprezo ou sua ingenuidade de saberem ser observados, e os converto em delícias a serem relembradas logo em seguida.
Quando nossas camisetas se cruzam, aproveito todos os milésimos de segundo do seu toque e da insinuação de uma sobre a outra. Guardo as faíscas da fricção para serem usadas comigo mesmo logo em seguida.
E quando finalmente eles passam, fecho os olhos - deixo de ser alguém bastante visual - e procuro sentir seu cheiro, procuro me enroscar nele, saber de que parte do corpo ele vem, mastigo o cheiro e o engulo inteiro. Há vezes em que não são tão bons, há outras em que não duram tanto, mas o sabor de cada um que por mim passa eu jamais deixo de provar... Em nenhuma circunstância.