Não sei dos meus acordes

Tem gente que grita. Ou que gesticula, que vomita. Eu prefiro ficar quieto e esperar algum sinal, mas não porque eu esteja esperando muito, ou porque aquilo seja muito importante para mim, ou porque cultivo aquelas palavras com adubo em mim, ou porque já as escrevi na história imaginária da minha vida. Eu fico quieto porque sempre pode haver alguma coisa que, por mais que eu espere, me surpreende; e sempre tem. Sempre tem um silêncio que eu aprendi a não segurar porque ele guarda coisas maravilhosas.
E há aqueles que vão embora. Eu já fui embora, muitas vezes, e nunca é dolorido. Teve uma vez, inclusive, que me deu prazer! E mais prazer me deu depois de vê-lo com um par de óculos ridículos: é minha crueldade achá-lo péssimo (e eu o acho). Eu sei que é dolorido pra quem fica, e eu já fiquei várias vezes, mas dessa vez eu não queria ir, eu queria ficar. Ficar na tua vida como mais uma história inesquecível, como mais um sorriso incontido, como mais um brilho... Posso?
Imaginas tu contando minha história! Com teu sorriso e com teu brilho! Eu pegaria emprestado qualquer adorno, qualquer adereço ou qualquer adjetivo, porque pra mim não há – é claro que há, mas é tão mais lindo quando tu me dizes que achas minha vida linda. Pois venha e desfrute, e olhe para mim, e sinta meu hálito pelo amanhecer, e me beije, e rasgue meus cabelos, puxe, morda minha barriga, sorria com minhas cócegas... O que há em mim que tu gostas? Seja o que for, faça disso âncora, faça disso farol, faça disso latitude e longitude de onde tu deves sempre ficar. Porque, sim, eu sei, tu vais embora, tu vais pra longe e não és daqui. Nunca foste daqui. Mas fique mesmo assim um pouco cá comigo, deixe algo de ti, nem que seja um ‘x’ no mapa. Faça de mim um ponto no teu mapa. Não vá sem deixar algo, um rastro de saliva ou piscar de olhos, resquícios de olhos, telefonema burocrático, email árido. Não vá sem deixar marcas de sentimento; seria péssimo imaginar que passaste por mim e não levaste nada do que eu sinto por ti.
Eu grito, é verdade. Não acho graça nisso. Sinto sono e me rendo rápido, desanimo. Grito, mas não tão alto. Quem ouve, vai embora. Quem não ouve, acha graça. Quem acredita, sabe: só quem me marca tem direito a algumas palavras.