"Pós-tu"

Existe esse pontilhado e essa membrana. Eles separam, mas não dividem; localizam zonas, mas não determinam territórios. São menos muros e mais linhas. Regiões fronteiriças, alfândegas, aduanas, espaços de trânsito.

Sinto saudades. Em Português temos um substantivo, “saudade”, para isso que sinto. Em outras línguas há verbos. Eu gostaria que fosse verbo e não substantivo, porque verbo se move e substantivo fica. Verbos podem ser pretéritos e futuros do pretérito; substantivos imóveis no tempo. Não quero que a saudade fique, quero que ela vá embora, quero esquecer. Quero saudade pretérita.

Vestígios? Rastros? Ficaram pedaços de quem na história de quem? Me pergunto qual delas será a primeira a ser apagada e reescrita, qual delas perderá por primeiro seu sentido. Porque eu agora sou um “pós-tu”, algo que veio depois de ti. Não sei se sinto saudade de ti, propriamente, ou se sinto saudade de mim antes de ti, do “pré-eu”. Meu pontilhado se rasgou. Me pergunto quem vai reconhecer o outro na rua anos depois, quem vai sorrir ao lembrar. Qual de nós vai contar a história do outro, qual de nós vai lamentar as linhas que nos separaram. Qual de nós vai ter saudade, no substantivo, e qual de nós vai sentir saudade, na sua dimensão verbal?