Sem chances, sem saídas e amando muito tudo isso

Fui encurralado. Lá num cantinho difícil de sair, também difícil de chegar, de fazer construir. Eram muitos meus cantos, meus ângulos. Fiquei preso num deles exatamente quando pensava estar destruindo essas linhas retas que o formavam. Linhas retas que me formavam. Fiquei ali um tempo me debatendo, fazendo um drama – drama Queen – fazendo uma ceninha básica. Deu certo por um tempo, por um certo tempo, mas é hora de mudar de estratégia: é hora de prescindir de qualquer estratégia. Não tenho mais chances, entre as muitas que tive. Ou deixo ir, laissez faire – laissez passer, let it be, que se foda; ou volto no tempo, insisto num certo erro [pessoa confusa essa que insiste num certo erro]. E meu canto – meu ângulo – virou meu canto – minha música. Canto em qualquer canto, já cantou o Ney. A menor distância entre dois pontos jamais foi uma linha reta. A menor distância entre mim e ele não comporta linhas retas, e a maior distância espero nunca mais haver. Nossa menor distância é medida em palavras, palavras que comportam silêncios, palavras ditas pela metade, palavras sussurradas, palavras incompreensíveis, gemidos. Nossa menor distância é também medida pelo toque, toque de um joelho no outro quando os corpos já se tinham descobertos – só mesmo dois românticos para se excitarem com o toque de um no joelho de outro quando os corpos já assinalavam a falta de qualquer coberta, cobertura, véu. Nossa menor distância é medida pelo toque que desliza na superfície, toque que corre, toque que aperta, toque que afaga, toque que puxa os cabelos, toque que beija: o beijo é um toque. Nossa maior distância, já disse, espero que nunca mais exista; e se existir, que para ela não haja medida.