Não tenho escrito muito por aqui, para ti, porque ando escrevendo de outras formas e para outros leitores. Às vezes nem escrevo mesmo, só durmo ou lavo roupas. Há coisas assim, poucas e pequenas, miúdas, que precisam ser feitas: aspirar o carpete, cortar o cabelo. Tenho perdido muito cabelo, mas de fato meus fios cresceram muito nos últimos meses. Tenho feito outras coisas, para outras pessoas. Tenho perdido o contato com alguns amigos, fabricando defeitos neles, me magoando e me consolando “todos tem seus poréns”, e de fato me chateio com o descaso alheio. Decidi adotar a lei de talião em relação a alguns, pedagogia do choque. Com outros, preferi aplicar a lei surda, pedagogia do silêncio. Não nego que sinto prazer em fazer alguns sofrer, me vingo e gosto de me vingar, mas gostaria de não ter que fazer isso. Tenho recobrado o contato com alguns que há muito não via. Rigorosamente iguais: mesmas piadas, mesmas expressões colocadas na mesma ordem em todas as frases que versam do modo exato sobre os mesmos assuntos há quase uma década. Dinheiro, mesada, sexo, aula, festinhas, shows, beijos e internet. Não quero dizer que assuntos de “adultos” falem de outras temáticas, às vezes sim, mas pelo menos são assuntos tratados de outros modos. Dinheiro não significa sempre mesada, apesar de continuar sendo importante; sexo e festinhas não subentendem sempre aulas e internet, apesar de eventualmente estarem correlacionados. Cortar em lâminas as superfícies disso que vivemos, ou não. E assim a gente vai bifurcando os caminhos, desencontrando de uns e misturando-se a outros.