Cartas a uma jovem bicha - impeachment

“[...]dopio como vodu, e eu fui pego de surpresa. Eu estava mentindo, estava sendo enganado. Tu me acusas, como se acusação fosse, de eu estar completamente apaixonado. Pois estou. Siga em frente no processo de impeachment do meu posto de amargo, de frio, de solene e de seco. No momento mesmo em que apontas o dedo em riste para mim sob essas alegações, eu já estou num outro ponto da espiral. E dessa espiral tu nunca vais fazer parte. Na minha espiral eu beijo, beijo muito, beijo quem eu quero e quem me quer. O “eu” conjuga seu verbo no plural “nós”: eu estou com ele porque queremos. Sinto vontade de tê-lo em mim, para mim e comigo, vontade de antropofagia. Pois não é isso o beijo, isso que tu nunca aproveitaste? Não é isso o beijo, senão um ensaio de devoração? Então de agora em diante me deponha do cargo, casse meu direito de legislar em favor da causa dos solitários e deprimidos porque este posto só pode ser teu [...]”