É, queridjeenho!

... não, queridinho! Meu corpo não é fantoche daqueles quem desejo, nem daqueles que me desejam. Meu corpo é só meu corpo, uma extensão de mim, uma coisa de mim, um algo qualquer de mim, mas não é eu. Eu sou outra coisa e outras coisas, eu não mereço – nem tu, queridinho, mas tu és velho pra dar-se por conta – ser escravizado por um, por dois ou por três que me desejam. E tu és um deles. Eu não vou me subsumir àquilo que tu desejas de mim, não vou me transformar naquilo – aquilo, aquela coisa, aquela máquina – que tu tanto quer provar. Tu não desejas aquele que sou, tu desejas aquilo que tu pensas que eu possa vir a me tornar. Vai te tratar! Eu não quero ser aquilo que tu queres que eu seja, eu quero ser exatamente aquele sou e aquele que eu me torno no instante seguinte, no dia seguinte, no ano seguinte! Eu me adoro um ano depois, dez anos depois, bem ao contrário de ti que fica mais e mais triste a cada minuto que passa. Triste e sozinho. Eu não sou uma pessoa sozinha, eu não sou único: sou tudo aquilo que os outros pensam que eu sou – até mesmo esse insatisfeito que tu pensas – e sou muito mais: sou o que penso que eu sou, sou o que eu quero ser já de antemão, sou o que eu não gostaria de ter sido, mas fui um dia. Não, queridinho! Não me sugue pro teu buraco negro porque lá só tem lugar pra ti!