Aprisionado

Ai, não, dessa fantasia não estou liberto, mas também dela não quero fugir! Não me tire essas fantasias todas, não me subtraia o poder da imaginação. É tão lindo e tão gostoso. A ponto de eu ir dormir mais cedo e acordar mais tarde somente pra ficar no sabor, no gosto, no exercício de fantasiar. Não me liberte disso. Liberte-me dessa merda de ciúme que verte de ti, ou da insegurança que secreta tua personalidade; mas não confisque os momentos em que eu não sou eu, momentos em que eu sou uma outra coisa que eu fantasio, que eu crio e parodio! Não me tire o momento de falar sozinho, de argumentar com meu-outro-eu: esquizo, porém feliz e inteligível. Não sinto falta de ti. Hoje, sentado no vaso sanitário, dei graças a deus por não te ter mais por perto. Não porque tu sejas menos, porque tu sejas ruim, porque tu sejas mau. Mas porque não quero, não combino, não sou da mesma raiz que tu. Me deixe ir, preciso andar. Não me aprisione nessa gaiola que tu criou pra ti. Eu tenho as minhas: elas sempre estão de portas abertas pra quem quiser entrar q pra quem quiser sair.