Dormi contigo noite passada. E pouco dormi: acordei de hora em hora acreditando o dia. Virei umas quantas vezes pra puxar o cobertor até tua nuca, pra cobrir tuas cosas, já que tu dorme de bruços e o vento do ar-condicionado te gelava a pele. Dormi contigo e dormi pouco, dormi cuidando. A cama era grande, mas não nos perdemos um do outro. Tu dormiu rápido, com a cabeça encostada no meu ombro, enquanto eu assistia TV. Resmungou um pouco quando eu te acomodei nos travesseiros e te abracei de lado no momento em que pensei que eu iria conseguir dormir. Teu calor me deixou insone. Tu não roncou; apenas fez um barulho, um zunido, um ronrono de respiração calma e profunda de quem está descansando. Tu te espalhando na cama. E mais pro meio da noite, numa das vezes que eu acordei para te zelar, tu enroscou teus pés nos meus, um pouco sem querer e muito querendo: eu sorri. Quando eu finalmente peguei no sono, durou pouco: pelas cinco horas da manhã eu acordei. Te vi de barriga pra cima, pernas esticadas, uma mão por sobre o peito e rosto voltado pra mim. Tu dormindo. Só vi tuas feições graças à penumbra do amanhecer que brilhava nos cantos da cortina. Não consegui mais voltar a dormir. Tu me encantando, e eu acreditando, acreditando, acreditando: dormi contigo noite passada.