Todas as coisas entre dois fiapos de nuvem ou entre dois tijolos: depende. O pote de café entre um pote de sal e outro de açúcar, que lugar é esse? Um mais pra lá do outro, assimétrico, me irrita, mas que lugar é esse? Entre um pote e outro, um lugar que me irrita. O lugar onde umas coisas entram mais que outras, umas pessoas cabem mais que outras: o lugar do cimento ou o lugar do céu. Irrita um espaço maior entre o pote de café e o pote de sal; um espaço menor entre o pote de café e o pote de açúcar. Todos cabem entre esses espaços, mas todos cabem mais entre uns que entre outros. Fim do dia de domingo, sol entre chuva, notícias de um suicídio. Houve aquele que não coube nem entre os potes de café e sal, tampouco entre os potes de café e açúcar. Houve aquele que achou um espaço acima, ou abaixo, dos potes. Houve aquele que recusou os potes e seus espaços entre um e outro. E foi embora. Cada início, cada começo: onde começam? Num piscar, num estalar, outra criança nasce no mundo. No mundo onde tudo cabe nos espaços entre três potes. A resposta à pergunta "que lugar é esse?" nunca acaba, nunca acha o ponto final que cada frase precisa ter para fazer sentido.  O início de uma criança no mundo nunca acaba: ela se pergunta "que lugar é esse?", e a resposta nunca termina. Ela seguirá se perguntando: "que lugar é esse entre os tijolos, entre os fiapos de nuvem?" Talvez haverá o sol brilhando entre os fiapos, ou talvez o cimento endurecido. Um sol brilhando assimétrico entre duas nuvens desproporcionais, que se movem. Talvez haverá dois tijolos simétricos, porém estancados no mundo, na coisa toda do mundo que gira e reverbera. Notícias de um suicídio não são animadoras, mas marcam o ponto final da resposta à pergunta "que lugar é esse?" Eu aposto em todas as crianças que nasceram durante esta escrita, aposto em todos os fiapos de nuvem e em todos os espaços entre eles: assimétricos, móveis e criativos.