falando em repetição, há uma música na minha cabeça faz meses. "o homem caminha só na estação / vindo de todo trem, de todo o lugar". ela repete toda entrecortada, versos aqui e ali. vem toda quebrada: em alguns momentos uns trechos sobrepõem-se aos outros, ou ganham mais rouquidão. repete-se também a campainha de um telefone. "chega em casa e senta ao lado de um cara que não diz nada". repete-se: um alguém ao lado, vazio, esvaziado. só eu sei que ninguém fala comigo, ninguém mais. não digo nada. sou eu o cara que não diz nada, sou eu quem não responde. "e pergunta pra ele / e pergunta sem parar: que lugar é esse?". pura feiúra. nenhum lugar é mais vazio que o meu. coisinhas feias deste mundo vieram me sugar ontem à noite. drenaram-me. tem um telefone tocando, mas eu não respondo. não há repetição quando não há fala, quando não há o que falar para repetir.