a parte ausente sempre produz temor. porque qualquer coisa ou qualquer pessoa - menos nós próprios - pode habitar aqui mesmo. a parte ausente é um trono, um berço, uma cadeira de balanço para o outro. a ausência é, em si, uma lacuna concreta e material. o nada está aqui. temos a companhia de algo que nos falta. compartilhamos com o vazio (essas bolhas, os vacúolos) a existência. existir é também ser vazio: estar acompanhado de buracos. o vento assovia alto quando encana pelos buracos. às vezes faz frio, outras vezes faz calor: sempre cintila o espaço oco, afirmando-se na sua presença. o medo é justamente de que a presença da ausência seja suprimida pela irrupção do outro em mim. medo de que a lacuna seja substituída pela história que o outro vai contar de mim. medo de quando a bolha estoura, de quando o vacúolo é inundado, quando o nada ganha corpo e o vazio, um rosto.