estar na ilha e separar-se do continente, mas a ilha é o continente. a ilha vem a ser um continente. é próprio deste terreno tornar-se seco e imóvel. eventualmente a ilha cessa sua deriva, estanca, e aglomera-se com outras ilhas, ou permanece isolada. o que define a ilha não é seu movimento, mas a qualidade da separação em relação aos continentes. entretanto, as ilhas imóveis são pequenos continentes insulares. recuso o pensamento de uma comida, de um prato de comida, com medo de sentir fome. a ilha não dá de comer ao corpo. os livros estão bem organizados na ilha. o saber tem seu lugar, mas eu não tenho lugar no saber. o sonho ideal de fechar a porta do mundo repete-se toda a noite. das segundas às terças e das quartas às quintas é como se eu vivesse pequenos sábados para domingos. das sextas aos sábados e dos sábados aos domingos é como deveria ser. trata-se de uma ilha quase hermética, impermeável ao continente. se pudéssemos conceber, ao revés, um continente enquanto uma ilha, eu voltaria ao continente cônscio de que não importa a terra onde eu pise: seca, isolada, estanque, imóvel, separada dos pequenos continentes, a ilha sempre haverá de me encontrar, de fazer-se em mim. a problemática das ilhas nunca foi a distância, mas propriamente a separação dos grandes continentes. também nunca foi emblemática a imobilidade das ilhas, posto que sua grande marcação distintiva é o fato de serem desertas.