parei o carro na vaga do estacionamento, desliguei o motor. situação e lugar sensivelmente diferentes daqueles de outrora, quando o sol metálico escorria pelo asfalto, pela água do rio, pela vista da cidade vizinha. eu estava apenas parado dentro de um estacionamento. apenas em silêncio com o motor parado. tive um pouco de medo, pois aquela sensação eu já havia tido dezessete anos antes: sensação de que tudo estava para acontecer, mas que a vida passava muito rápido. daqui dezessete anos eu terei 49, e isso é assustador. eu serei assustador. eu estarei sozinho. um ano passa depressa, cinco, dez; dezessete é praticamente amanhã. eu só tenho mais dezessete anos para fazer algo da minha vida, para fazer algo com a minha vida. pois eu não vou desafiar a morte. não vou postergá-la. que ela chegue; eu simplesmente vou. só por mais dezessete anos... pensei que era inútil recomeçar ou tentar fazer diferente. tudo já está terminando, em processo de finalização. há dezessete anos eu pensava "ainda vai dar tempo" ou "um dia eu farei...". hoje eu penso que dezessete anos já estão aqui.