pois se há: coisas só ditas no não dito, coisas só entendidas no espaço entre as linhas. pois sim: forma e conteúdo dóceis, cada qual no seu quarto contíguo e separado. há um jeito de ser, não sabe?, que deve ser no mínimo mencionado em cada tomada de voz. a imagem, a palavra, o sentido, o significado: e tudo se resume a isso. esta deveria ser uma pergunta e não uma afirmação. tenho passado mais tempo sozinho que acompanhado nas minas andanças pelas cidades. tempo de pensar em tudo: na anti-matéria, no poder de dirigir um carro, na inconveniência de ter dito algo inadequado. de não saber. de não ser suficiente para saber e para passar o saber, produzir o saber no outro. penso que o que eu sinto é uma coisa tão minha, a ponto de o outro ser totalmente desresponsável por qualquer pensamento ou afeto que me ocorrer: a responsabilidade por aquilo que sinto é inteiramente minha. quero coisas que estão fora do meu alcance - e não é justamente essa a função do querer? pela primeira vez em anos eu penso antes de digitar, e não raramente apago frases inteiras, principalmente as que abrem os parágrafos, porque não encontro a entrada para aquilo que quero dizer. denuncio e bloqueio tudo aquilo que me excita. e assim vamos mudando de cidade, de latitude, de língua, sem mexer um centímetro no que pode ser verdadeiramente interessante: a forma triste através da qual tudo ganha sentido, tudo ganha conteúdo, o não dito entre o silêncio das coisas.