eu sabendo que em cada dobra do corpo haveria um resquício a ser lido, decifrado, interpretado e passado às gerações vindouras com pouca ou nenhuma deturpação em sua mensagem, em sua informação, no gérmen de vida que estaria inscrito em cada pequeno sulco das rugas das palmas das mãos, cada um deles e todos eles juntos, as linhas das mãos que eram mapas de como chegar, de como seguir em frente, em cada dobra do corpo haveria um pequeno tesouro em hieróglifo ainda se pretendendo arqueológico, lendas de uma vida cancelada em sua mais nobre tarefa, conjunto de uma biofantásticagrafia que deveria ser dada àqueles que viessem depois de mim não como mera ficção neurótica mas como mito coletivo que abraça e atravessa o mais belo gesto de toda a população de quem sou pai, um corpo envolto em uma pele e uma pele encapsulada em um destino, em um dever, em um comando, um corpo que haveria de ser procurado, escavado e posto nu ao olhar dos descendentes em todo seu brilho escravo e fosco, e mãos com linhas cartográficas que se imporiam sobre o futuro de toda a prole.