[...]tei no chão do apartamento vazio. nenhum móvel. só o som dos trens indo e vindo. a coluna toda aderente ao piso. a cabeça pesando no décimo quarto andar pela gravidade que era, sem dúvida, maior que no nono. senti que tinha todo o tempo de uma vida para tentar ser feliz naquele lugar. levantei com esforço a cabeça do chão pra ver a paisagem: até a cantareira. eu estava ancorado ali. o teto mexia em redemoinhos que, percebi mais tarde, eram futuros problemas oftalmológicos. eu não flutuava, nem dissolvia. eu era uma das rochas oceânicas que permanecem através de eras, afundam navios, destroçam submarinos; uma das rochas oceânicas onde moram gerações de corais, peixes e moluscos, nobres e plebeus, sagrados e profanos. eu com toda a força de alguém que não sabe o que quer, mas quer. eu com todo o peso de quem tem o que carregar e oferecer como dád[...]