olá, ghost.

por quê? por que se recolocar em rota, atravessar a zona, passear pelo meu olhar? sofrimento: capítulo dois. e eu amei. eu me refestelei de novo na vontade de estar em ti, por sobre tua pele. não quero ser a sombra da tua sombra; eu quero ser o corpo ao teu lado, tua companhia, o sorriso que sorri antes e depois de ti. [o trem é meu amigo, não posso odiá-lo.] não durmo. sonambulo na expectativa de um encontro, reencontro, novo encontro, num outro tempo, numa outra vida; teria visto em mim outro homem? eu preciso dar um destino para a força do que sinto. o que sinto é meu, minha habilidade, minha capacidade. o que isso me permite fazer com a vida; a cada convite para me desacomodar eu digo sim, sim. eu digo sim para me rasgar. eu usava roupas de tecido sintético quando nos conhecemos; eu brinquei com fogo; a roupa queimou e grudou na minha pele, chamuscada; eu te arranco de mim como tecido sintético em chamas. o que eu faço com essa força? [o trem é meu amigo, ele carrega pessoas vivas.] eu vou matar o tecido sintético queimado, arrancado da minha pele, pedaços chamuscados do que queria de ti e contigo. eu vou matá-lo como se matam todas as belezas. eu vou assassinar os pedaços sintéticos queimados de pele, da pele que encostou em ti. vou trancá-los num caixote de vidro. sem comida e ser ar. vou matar essa força por inanição e por asfixia. não vou dar de comer, não vou dar de respirar. [o trem é meu amigo, ele é o retrato de são paulo.] por quê? depois de ti só sobra meu corpo sem pele, em carne viva, viva, viva.