[...]ija sentado. bem interessante. mas quando ele levanta do vaso sanitário, ainda há gotas que pingam na sua cueca. e eu quero essa cueca.

a cueca em si é tudo e é nada. ontem à noite sonhei que eu andava por um corredor e eu sabia que ao lado havia outro corredor onde uma ex-colega professora andava junto comigo. eu gritava "não adianta se esconder, eu vejo teus cabelos novos!" a cueca não é algo que me impede de ver, ou de fantasiar ver, os cabelos.

o nariz e o poder. o olhar que retém a explosão do ódio. eu estou de pé na minha sala, de onde eu posso ver, pela janela cujos vidros eu não limpo, um rapaz andando na calçada. e ele se torna tudo: meu amigo, meu namorado, o pai do meu filho adotivo que ele tem com uma mulher, o ex-namorado da minha atual namorada. ele é alto, muito corpulento, eu o apelido de "zelensky" em homenagem ao presidente da Ucrânia porque ele é uma versão do "zelensky" aumentada, mais robusta, é um homem vantajoso. ele treina na mesma academia que eu. ele levanta a camiseta para secar o suor da sua testa. e deixa ver a barriga flácida e gorda onde eu quero me deitar, que eu quero lamber; a panturrilha grossa a partir da qual eu imagino seu pinto; os olhos azuis; o nariz.

tudo se completa de uma forma que me assusta. não é só o "zelensky" que me excita. na academia onde eu treino há uma variedade de pessoas que eu noto, que eu reconheço. tem o "pimenta", que é garçon num boteco aqui perto de casa. tem a "mara", que trabalha uma empresa de telefonia celular. tem o "santista", que é um cara que eu vi duas vezes e que me faz ficar de pau duro imediatamente por causa da sua camiseta de time. tem a "manhosa", apelido que dei pela forma como ela fala ao celular, que é toda tatuada. diferentemente do que dizem de mim, eu desejo muitos e muitas.

não sou comum ao ponto de saber pouco. quisera eu ser o amante de Michael Corleone. mas só entrei nessa trama porque o pai me interessa mais que o filho. e o filho, na medida em que encarna o pai, se dilui. eu quero a casa, e o corpo, e o dinheiro. Michael Corleone nunca aparece sem camisa. só vemos alguns pelos de seu peito no final do segundo filme da trilogia. é isso que me interessa. nessa trama, eu acabaria assassinado - e não é essa a fantasia que os viados têm de si mesmos? que algo da realidade vai rasgar seu corpo e os matar? uma inesperada, ou incalculada, revolta do corpo contra eles próprios? nem que seja microscopicamente?