O lugar do rei

Há alguma uma realeza, alguma majestade? Sem dúvida, há um reinado esperando seu monarca. Um trono vazio e uma coroa pousando sobre ele, sem cabeça. Uma coroa sem cabeça; um trono sem bunda.
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Uns vacúolos se tornam bolhas e vêm subindo, rompendo a pele. Estouram na superfície e vazam lava feita de sangue. Isto não é um corpo, mas quer tornar-se um; isto não tem vida, mas a deseja. Esta é uma existência que tem desejo, mas que ainda não alcançou a vida.
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Era um desfile macabro: torsos com as vestes arrancadas, pernas seccionadas do tronco, quase nenhum deles tinha mãos ou dedos e suas peles exibiam a mesma ferida em forma de flor, profunda e purulenta. Pedaços ocos desarticulados. Era a composição de um Frankenstein pulverizado em milhões de fotos repetidas. Mas havia uma opulência ali, uma pulsação... Não é certo que tenha sobrevivido.
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O vazio do trono era o próprio rei; erradamente supúnhamos que ele tivesse abdicado da sua coroa, mas estava ali o tempo todo, nos controlando, reinando, governando.