Frio e cruel

[...]edo, medo frio e cruel. Psss! Não posso falar alto, eles vão me escutar. Eu tô com medo, e é frio e cruel. Eu ouço estampidos surdos, assim, POC, de rolhas desprendendo de garrafas de champagne. Escuto a noite toda – será que eles brindam o meu medo? São frios e cruéis! Não, não chama ninguém! Não chama, e fala baixo: eles podem escutar. Mas não é isso que me dá mais medo: o que me assusta é o som do balanço, balanço de ferro de parque de diversões, indo e vindo indo e vindo indo e vindo. Sempre, como se tivesse alguém ali se balançando. É. E há gotas, em algum lugar aqui tem uma goteira, uma torneira que não tá bem fechada. Que pinga. PLIC, PLIC, PLIC. Não, todos se foram, todos já foram pegos, só sobrou eu aqui. Ninguém voltou. Fala baixo porque eles podem estar aí também. Eles são frios e cruéis, esses sonhos que tenho, esses meus mundos, meus personagens: frios e cruéis. Psss! Eles falam alto! Sorriem, e os olhos deles viram apenas riscos nos rostos quando sorriem. Eu tenho medo deles, acho que eles me trancaram aqui. Eles me dão medo, um medo frio e cruel. Como é que pode terem saído de mim? Escuta, escuta! É uma chave em alguma fechadura! São eles, eu sei que são, estão vindo pra me pegar! Não chama ninguém, não. Eu vou tentar me fingir de mor[...]