Beiradas

[...]or a mais, amor demais. Mentiras, trapaças e traições; é demais. Porque chego na beirada, na linha que precipita o corpo, no trampolim: e eu não me jogo, não me atiro, não pulo. Sigo andando pela beirada, como quem caminha sobre uma mureta ou meio-fio da calçada, colocando um pé depois do outro e mantendo o equilíbrio com a ajuda dos braços estendidos na linha dos ombros. De braços abertos eu me equilibro caminhando na beirada. Jamais caio, pois o jogo termina se eu cair. Se eu cair, serão eles que terão me vencido, serão eles que terão mudado meu percurso. Não caio; não, Caio. Mas não me tirem nada, nem os pelos das orelhas, nem uma lembrança que pesa meu rancor: qualquer subtração do meu amontoado desestabiliza meu caminhar, e aí sim eu caio. Nem a barba, nem a pança, nem os cisos: não me tirem nada. Eu desequilibro com subtrações. Só aceito agregar: um beijo teu, e eu inundo; um beijo teu, e eu surfo na beirada. É difícil de escrever isso; gaguejo ao redigir esse texto. Prefiro fechar toda a casa, ir embora. Vou com a chuva para longe. É horrível escrever esse texto. Falar em ti já não é mais tão f[...]