o riso da diaba cristã

[...], essa culpa sibilante que me persegue, cascavel, que se enrosca em mim e me sufoca, jiboia, que me persegue e me assusta e se levanta sobre mim, naja, que me mal-trata e me pisoteia e que me despreza, sucuri, tu que não liga nem bate na porta, mentiroso, que me prometeu mais uma vez e outra e quiçá mais uma, víbora, que me dá pó de vidro pra cheirar e eu fico viciado, essa culpa rastejante de seis patas, escamada, de língua bifurcada, ofídica, essa culpa pela inalação e pela inação, pela paralisia, essa culpa pelo desprezo, mas nada se encaixa melhor em ti do que o continente que se desprendeu de mim quando eu te tirei da minha vida, essa culpa monumental e venenosa de sentir prazer em ser feliz, essa arrogância linda de quem é feliz e o sabe, de quem é feliz e pode pegar no ar a inveja alheia, essa impáfia linda de quem ri da miséria de espírito daqueles que pensam ter um espírito: o riso da diaba cristã que há dentro de mim [...]