daí me vi andando pela calçada úmida, um pouco limenta, e o céu bem carregado de nuvens cinzas, aquele cinza brabo de quem quer brigar, e batia um vento frio, e a rua estava vazia. só eu andava naquela quadra, e uma ou duas outras pessoas dispersas nas demais. havia um silêncio quase de cidade fantasma. naquele momento eu me senti sozinho e me doeu um pouco o coração. porque sozinho é, sozinho foi, sozinho será. e ontem, ou antes, estava lendo um livro do Caio no qual consta um conto que me irritou muito. porque reconheci na estética da sua escrita a mesma que quis imprimir num parágrafo lindo que escrevi uns anos atrás, sem nunca ter lido o tal conto. acho que o título é "Visita". odiei esse conto, e por uma única razão: não fui eu quem o escreveu. eu achava que eu era autêntico ou que havia sido, pelo menos uma vez. porque cópia é, cópia foi, cópia será. pois eu disse que não queria grandes valores, queria somente o que era do meu direito, da minha alçada. e aquilo que era meu por direito era pouco, talvez não uma miséria, mas algo pagável. e disse também que eu não precisava justificar o porquê de eu reivindicar esse valor. era ele quem tinha que argumentar sobre sua razão de não querer me pagar o que devia. uma dívida é uma espada. muitos me devem, muitos usaram meu dinheiro em benefício próprio. para muitos eu emprestei por ajuda, num momento de necessidade. e muitos não têm intenção de quitar o débito contraído. porque enganado é, enganado foi, enganado será.