tive pensamentos sombrios. não foram sobre a sombra, nem se esconderam por trás da luz. foram pensamentos sombrios porque me cobriram com um manto escuro, frio, e se enrolaram pelos meus braços e pernas até me convidarem a parar de me mexer, e enveloparam minha cabeça em muitas voltas, revoltas, como se um turbante em chifre cinzento. eram pensamentos tristes. eram pingos vagarosos e intermitentes, amargos. não eram translúcidos, não havia lucidez; eram opacos, sem brilho. pensamentos melancólicos de uma textura grudenta, de aspecto denso e pesado, que se derretem lentamente e carregam o que estiver a sua frente com sua aderência morna, incômoda. tive pensamentos doídos que andaram pela minha cabeça como panos velhos reutilizados, manchados, furados, fedorentos. pensei de sombria-mente, de triste-mente, de doída-mente. eram moscas nas minhas narinas.