Quatro quilos mais magro

Quando eu acordei, me levantei da cama e me olhei no espelho: meu cabelo estava comprido de uma tal maneira que há meses eu não me via tão cabeludo. Minha barba também estava crescida, me incomodava, porque meus pêlos são muitos e são grossos. Escovei os dentes e comi uma xícara de Corn Flakes com granola e iogurte de morango, tendo sempre o devido cuidado de retirar da granola todo rastro das uvas passas (porque uvas passas, pra mim, são o cúmulo da deselegância). Tomei meu café da manhã saudável assistindo à Ana Maria Braga, pois dias antes precisei fazer uma redução drástica na minha grade de canais e não tinha mais outro programa interessante para assistir às 8 da manhã. Quatro quilos mais magro que em fevereiro, me perguntava, ao comer a granola, se era mesmo necessário dar tanta atenção à formas do corpo, ao peso do corpo, à juventude e viço do corpo; me perguntei se éramos somente e apenas aquilo que nosso corpo é. Será mesmo que o avatar da nossa personalidade é nosso corpo? Será que nossa personalidade está encapsulada dentro dos limites da nossa pele? Será que eu sou algo mais que meu corpo, algo deslocado do meu corpo, de modo que eu, Luiz Felipe, sou meu corpo, mas também meu apartamento, mas também meus livros, mas também meus pensamentos e minhas idéias, será que eu sou toda uma extensão energética cujo adensamento e concentração convergem para um ponto exato, e esse ponto é o corpo?