Sonho

Sonhei com um tsunami. Sonhei com um mar revolto que invadia a praia onde eu morava. Minha mãe estava indo para a beira-mar, com seu maiô anos 50 e chapelão, na bolsa um bronzeador filtro 4 da Payot, quando foi engolida pelas ondas de água negra que vinham do oceano. Eu tentei chamá-la, tentei avisá-la, mas ela queria muito pegar uma corzinha. Corri para a casa onde eu morava, eu e meu pai, e subimos correndo para o piso superior. Em poucos instantes a água era tanta e tão raivosa que inundou o andar térreo, e pela janela víamos que o mar havia sido transposto para terra firme. Dava pra ver entre as golfadas de água os corpos mortos das pessoas incautas que foram vítimas da invasão imprevista: os corpos pareciam peças de roupas que tombavam em círculos, como que dentro de uma máquina da lavar. De repente, dei-me conta de que somente eu e meu pai havíamos sobrevivido em todo o planeta daquela catástrofe natural. Abrimos, então, uma pequena janela que dava para um deserto sobre o qual brilhava um sol alaranjado. O cenário era solitário, desolador. A responsabilidade que tínhamos era pesada: iríamos reconstruir o mundo.