Cartas a uma jovem bicha - Sobre as escolhas

Eu me sinto só ao escrever essa carta. Eu me sinto abandonando, desemparando, desesperando, desacreditando, desconfiando, sempre no gerúndio porque é algo que se faz neste momento e se prolonga no futuro. Eu me sinto escolhendo um caminho que só oferece lugar pra um: acabo por impigir a mim mesmo a condição única de distanciamento egóico. É bem provável que nos fim dos tempos só sobre eu e meus livros, com mais ninguém pra me trocar as fraldas geriátricas. Isso porque nós fazemos escolhas que nos empurram daqui pr'ali, sempre um pouco mais pra um lado, sempre um pouco mais pra baixo, e eu desde já sou bastante só. Mas se é isso que tem que ser, se é assim que vou (que vamos, nós) aprender e ensinar, se é assim que fazemos acontecer outras pessoas nas nossas vidas sem que nos deletemos mutuamente, se é assim que será eu aqui admito e aqui assumo. Não vou me lastimar por qualquer decisão que eu ou que qualquer um de nós tomar: deixo a lástima para aqueles que simplesmente não decidem nunca.