O rosto contamina o corpo

Um amigo querido me passou um material interessantíssimo sobre o rosto, sobre a rostidade. Paola Zordan, junto com Deleuze e Guattari, traz:
"Os rostos não são primeiramente individuais, eles definem zonas de freqüência ou de probabilidade, delimitam um campo que neutraliza antecipadamente as expressões e conexões rebeldes às significâncias conformes."
Procuro pensar no rosto não como nossa cara, não como o sistema fechado [olhos-nariz-boca], exatamente. Procuro pensar o rosto como como metáfora, como topografia de ressonância daquilo que somos ou daquilo que pretendemos ser. Um rosto não é a face; é através de onde e por aquilo que nos transformamos. Uma re-entrância onde procuramos nos acomodar, a partir de onde enxergamos - mais que isso, lugar de onde nos vêem. O rosto fixa, o rosto contamina.
Por isso mesmo, o rosto aprisiona. Penso nos meus sujeitos de pesquisa: "20cmmachoativo", "pauzudo23cm", "TravestiGulosa". Seus rostos nômades, re-construídos a partir de re-significações dos seus próprios corpos: recorte seu pau duro e sua bunda aberta, cole ali sua rostidade e seja feliz com seu novo relevo subjetivo. Se o rosto contamina o corpo, contamine o rosto com o corpo, arranque o rosto do corpo e desloque o próprio corpo, inverta-o, re-coloque-o, recorte-o. Destrua-o e torne-se um@ forasteir@, escape do rosto, desfaça-o.
Onde quer que o rosto estiver, ele irá em seu encalço. Ele não pára nem quando dilaçerado. Fuja, torne-se um nômade. O rosto não suporta o adiamento.